domingo, 2 de junho de 2013

Síndrome de aspiração de mecônio - Resumo

SÍNDROME DE ASPIRAÇÃO DE MECÔNIO - RESUMO

  • Síndrome de aspiração de mecônio:
    • Fisiologia do mecônio:
      • É um líquido viscoso composto por secreções gastrointestinais, debris celulares, bile, suco pancreático, muco, sangue, lanugo deglutido e vérnix;
      • Durante a gestação, o mecônio aparece no íleo fetal entre a 10ª e 16º semana;
      • No nascimento, 60 a 200g pode ser eliminado pelo recém-nascido, sendo que a eliminação intra-útero é incomum, principalmente antes da 37ª semana gestacional, devido à pequena capacidade peristáltica, a um bom tônus do esfíncter anal e à presença de um "plug" de mecônio particularmente viscoso no reto;
      • Em gestações de 42 semanas ou mais, a passagem de mecônio ocorrre em 35% dos casos.
    • Definição:
      • Síndrome clínica caracterizada por uma insuficiência respiratória num neonato que apresenta líquido amniótico meconial ao nascer e que tem achados radiológicos compatíveis com o quadro clínico, sem que haja outra explicação para estes sintomas
    • Etiologia:
      • Hipoxemia fetal devido a insuficiência placentária ou limitação das reservas fetais:
        • Isso leva à passagem de mecônio para o líquido amniótico antes do parto;
        • O esforço respiratório ofegante causado por desconforto respiratório contínuo leva à aspiração de mecônio no útero.
    • Epidemiologia:
      • Passagem de mecônio para o líquido amniótico ocorre em 10-15% dos RN termo, 35% dos RN pós-termo e é rara em RN pretermo.
      • Apenas 5% dos RN com mecônio no líquido amniótico aspiram o material para os pulmões e desenvolvem a síndrome clínica;
      • A incidência geral é de 0,43 por nascido vivo.
    • Patogênese:
      • Aspiração de mecônio espesso leva à obstrução completa ou parcial;
        • Obstrução completa resulta em atelectasia;
        • Obstrução parcial resulta em hiperinflação devido ao sequestramento de ar nas porções pulmonares distais à obstrução
        • Isso resulta em um padrão radiográfico composto, com áreas de atelectasia e áreas com hiperinflação.
      • Mecônio mais diluido alcança os espaços aéreos distais, inativando o surfactante e levando à uma imagem radiográfica similar à da Síndrome do Desconforto Respiratório (SDR) com nebulosidade difusa e volume pulmonar diminuido;
      • Inflamação em resposta aos conteúdos meconiais levam à edema alveolar e bronquiolar, diminuindo, ainda mais, o surfactante e piorando o quadro.
    • Manifestações clínicas:
      • Pele frouxa e descamada;
      • Cordão umbilical com coloração amarelo-esverdeada;
      • Taquipnéia, batimento de asas nasais, retrações, roncos e estertores grossos;
      • Cianose;
      • O tórax pode ter um formato de barril, devido ao aprisionamento de ar.
    • Diagnóstico:
      • O diagnóstico é feito baseado nos seguintes critérios:
        • Presença de mecônio no líquido amniótico;
        • Presença de desconforto respiratório;
        • Alterações radiográficas:
          • Mudam com o tempo;
          • Na fase aguda com aspiração de mecônio espesso, existe um padrão radiográfico composto, com áreas de atelectasia e áreas com hiperinflação.
          • Com aspiração de mecônio diluido e inativação do surfactante, existe opacificação homogênea e volume pulmonar normal ou diminuído.
    • Diagnóstico diferencial:
      • Como existe presença de mecônio no líquido amniótico em 10% dos partos, recém-nascidos com outras causas de desconforto respiratório pode ter mecônio no líquido amniótico;
      • O principal diagnóstico diferencial é Taquipnéia Transitória do Recém-Nascido (TTRN). A apresentação radiográfica pode ser muito similar. A diferenciação se faz pelo rápido clareamento do infiltrado na TTPN, enquanto na Síndrome de aspiração de mecônio o infiltrado pulmonar persiste por muitos dias.
    • Tratamento:
      • CPAP (Pressão Positiva Contínua em Vias Aéreas)- Indicações:
        • RN com peso inferior a 1.500g, na presença de qualquer sinal de aumento do trabalho respiratório. Nesse caso, instalar a CPAP precocemente, se possível desde o nascimento;
        • RN com peso superior a 1.500g mantendo SatO2 abaixo de 89% em oxigênio igual ou superior a 40%;
        • Pós-extubação traqueal para todos os RN com peso inferior a 1.500g;
        • Apneia neonatal.
      • Ventilação mecânica, se CPAP não for suficiente;
      • Surfactantes:
        • Podem ser úteis pois o mecônio inativa o surfactante.
      • Corticóides:
        • Diminuem a inflamação, porém sua segurança não foi estudada.
      • Antibióticos:
        • São úteis pois o material meconial aspirado pode ser contaminado, além de que o mecônio propicia a infecção bacteriana.
    • Prognóstico:
      • A síndrome de aspiração de mecônio raramente é fatal devido aos cuidados intensivistas modernos, porém em lugares sem recursos, é uma importante causa de morbimortalidade.
    • Prevenção:
      • Evitar nascimentos pós-termos é uma medida efetiva;
      • Sucção traqueal de rotina não é recomendada para recém-nascidos hígidos, porém é uma medida importante em recém-nascidos deprimidos;
      • Âmnio-infusão não tem se mostrada efetiva na redução da incidência ou da severidade da síndrome de aspiração de mecônio.

Rotura prematura de membranas - Resumo

ROTURA PREMATURA DE MEMBRANAS - RESUMO

  • Anatomia das membranas fetais:
    • O feto desenvolve-se dentro do saco amniótico que é envolvido como um balão pelas membranas fetais;
    • As membranas consitem de:
      • Fina camada do âmnio revestindo a cavidade amniótica composto por:
        • Epitélio cuboidal simples;
        • Camadas espongosa e compacta de tecido conjuntivo.
      • Córion espesso consistindo de:
        • Camada reticular;
        • Camada trofoblástica.
    • O âmnio funde com o córion apenas no final do primeiro trimestre, antes é separado pela cavidade exocelômica.
  • Definição:
    • Rotura de membranas que ocorre espontaneamente antes do início do trabalho de parto, independente da idade gestacional.
  • Epidemiologia:
    • Rotura prematura de membranas (RPM) ocorre em 8 a 10% de todas as gestações;
    • Rotura prematura de membranas pretermo (RPMp) ocorre em 1% das gestações e tem uma incidência duas vezes maior em afrodescendentes;
    • Entre 10 a 28% dos partos prematuros são uma consequência de RPMp.
  • Consequências:
    • RPM a termo oferece baixo risco para complicações neonatais severas;
    • RPMp entre 32 e 36 semanas é associado com bom prognóstico, especialmente se o feto tiver maturidade pulmonar;
    • RPMp entre 23 e 31 semanas oferece alto risco para complicações neonatais severas.
  • Fisiopatologia:
    • Com a progressão da gestação, mudanças no conteúdo e tipo de colágeno, juntamente com apoptose, resulta em enfraquecimento das membranas fetais:
      • O enfraquecimento das membranas é mais evidente próximo ao óstio interno é estimulado pelas metaloproteinases de matriz e pela redução de seus inibidores.
    • As contrações sujeitam as membranas a forças físicas adicionais;
    • Se não ocorrer RPM, durante o trabalho de parto, a dilatação cervical diminui o trabalho necessário para causar rotura das membranas no óstio interno.
  • Fatores de risco:
    • Infecção do trato genital:
      • Em 25 - 35% dos casos, existe positividade na cultura de líquido amniótico.
    • Parto prematuro prévio, especialmente se este for causado por RPM:
      • O risco é maior quanto menor for a idade gestacional do parto prematuro.
      • Existem evidências atuais que suportam o uso de progesterona para mulheres que tiveram parto prematuro prévio devido a RPM
    • Mulheres com pequeno comprimento cervical;
  • Curso clínico:
    • RPM a termo:
      • Em metade das grávidas em conduta expectante, o parto ocorre em menos de 5 horas após  RPM, e em 95% o parto ocorre dentro de 28 horas;
    • RPM pretermo:
      • Em 93% o parto ocorre em menos de 1 semana após RPM;
      • Em 50 a 60% daquelas com tratamento conservativo, o parto ocorre em menos de 1 semana após RPM;
  • Complicações:
    • Complicações maternas:
      • Corioamnionite:
        • É a complicação materna de RPMp mais comum;
        • O risco aumenta com a duração da rotura de membranas e diminui a medida que aumenta a idade gestacional;
        • Com RPM remota do termo, corioamnionite ocorre em 60% dos casos e é complicada por endometrite em 2-13% dos casos.
      • Descolamento prematuro de placenta:
        • Pode causar ou ser consequência de RPM;
        • Afeta 4-12% dessas gestações.
    • Complicações fetais:
      • Infecções;
      • Sofrimento fetal:
        • Pode ser causado por descolamento prematuro de placenta ou por compressão do cordão umbilical que, por sua vez, é causada por oligohidramnia.
      • Morte fetal: 
        • 1-2% dos casos com conduta conservativa.
    • Complicações neonatais:
      • A frequência e severidade de complicações neonatais são inversalmente proporcional à idade gestacional em que ocorreu a rotura de membrana e o parto.
      • Sindrome do Desconforto Respiratório (SDR):
        • É a morbidade aguda severa mais comum devida a RPMp em qualquer idade gestacional;
      • Sepse Neonatal:
        • RPMp aumenta em duas vezes o risco de sepse neonatal em comparação a partos pretermo com membranas intactas;
        • Pode resultar dos mesmos organismos presentes no líquido amniótico ou outros organismos;
        • Pode apresentar-se como pneumonia congênita aguda, sepse, ou meningite;
      • Hipoplasia pulmonar:
        • Ocorre em 74-82% dos casos de RPMp entre 15 e 16 semanas gestacionais. Raramente ocorre com RPMp após 26 semanas;
        • Complicação severa de oligohidramnio no segundo trimestre;
        • Resulta de uma falta de bronquíolo terminal e de desenvolvimento alveolar durante a fase canalicular do desenvolvimento pulmonar;
        • Desenvolve semanas após a rotura de membranas.
        • Manifestações clínicas:
          • Circunferência torácica pequena;
          • Desconforto respiratório severo;
          • Hipertensão pulmonar persistente no neonato;
        • Achados radiográficos:
          • Pulmões pequenos bem aerados;
          • Tórax em forma de sino;
          • Elevação do diafragma.
  • Diagnóstico:
    • O diagnóstico é feito pela presença dos seguintes critérios:
      • Visualização de líquido amniótico evidente atravessando o canal cervical, ou;
      • Paredes vaginais laterais ou fórnix posterior com pH maior que 6,0 a 6,5, e;
      • Cristais microscópicos arborizados, devido à interação entre as proteínas do líquido amniótico e sais provenientes de secreções vaginais obtidas por swab a partir do fórnix posterior.
  • Conduta:
    • Considerações gerais:
      • Deve-se avaliar a apresentação fetal, contrações, sinais de infecção intrauterina e evidências de sofrimento fetal;
      • Evitar a realização de toque vaginal, exceto nas gestações a termo, em gestantes com parto iminente ou quando se planeja a indução imediata:
        • Toque vaginal diminui a latência entre a rotura de membrana e o parto. 
      • Exame especular oferece informações acerca da dilatação e apagamento cervical, além de poder evidenciar a presença de cervicite;
      • Se houver sangramento vaginal, avaliar possibilidade de placenta prévia e/ou descolamento de placenta;
      • Na vigência de vaginose bacteriana, o tratamento está reservado para pacientes sintomáticas.
    • Gestação entre 22 e 24 semanas:
      • Pode-se oferecer à gestante a opção de interrupção da gestação devido aos riscos maternos associados como corioamnionite, sepse e óbito;
      • Caso a mulher opte por uma conduta expectante, tal fato deverá ser registrado no prontuário;
      • Deve-se fazer a internação no momento do diagnóstico, com hiper-hidratação por 48–72 horas e reavaliação do ILA. A partir de então, reavaliar periodicamente;
      • O acompanhamento poderá ser realizado em nível ambulatorial, se não houver evidências de infecção ou sangramento vaginal, conforme a seguir:
        • Avaliação de sinais de infecção e de começo do trabalho de parto:
          • Febre.
          • Hemograma duas vezes por semana.
          • Presença de contrações uterinas.
        • Avaliação do estado fetal:
          • Biometria fetal a cada 15 dias.
          • Percepção de movimentos fetais pela mãe.
          • Ausculta de batimentos cardiofetais duas vezes por semana.
        • Repouso estrito no leito;
        • Evitar coito vaginal;
        • Antibioticoterapia (ver adiante);
        • Sem tocólise;
        • Sem corticoterapia.
    • Gestação entre 24 e 33 semanas:
      • A mulher deve ser internada;
      • Cuidados gerais:
        • Repouso no leito com permissão para uso do banheiro;
        • Curva térmica de 4 em 4 horas (exceto durante o sono noturno da gestante);
        • Observar presença de contrações uterinas;
      • Realizar exame especular quando necessário para avaliar as condições cervicais e eliminação de líquido amniótico;
      • Hemograma duas vezes por semana ou se surgirem sinais de corioamnionite. Hemossedimentação e Proteína C reativa quando possível;
      • Avaliação do estado fetal:
        • Ausculta de batimentos cardiofetais duas a três vezes ao dia;
        • Contagem de movimentos fetais pela mãe duas vezes ao dia (após almoço e jantar);
        • Cardiotocogra fia basal diária ou no mínimo duas vezes por semana;
        • Perfi l biofísico fetal diário para gestantes com ILA <5cm e duas vezes por semana para gestantes com ILA >5cm;
        • Avaliação de volume de líquido amniótico por ecogra a de 2 em 2 dias.
      • Hidratação oral (3 a 4l/dia);
      • Antibióticos:
        • Além de reduzir o risco infeccioso, melhoram os resultados perinatais;
        • Um esquema possível seria o uso de AMPICILINA 2g IV a cada 6 horas por 48 horas seguida por 5 dias de AMOXICILINA 500 mg a cada 8h ou 875mg oral a cada 12 horas. Adicionalmente usa-se AZITROMICINA 1g em dose única oral.
      • Corticoides
        •  Betametasona 12mg IM a cada 24h por dois dias (duas doses). OU
        • Dexametasona 6mg IM de 12 em 12h por 2 dias (4 doses).
        • Indicações: IG ≥ 24 e ≤ 34 semanas.
        • Contraindicações: 
          • Evidências de infecção e/ou parto iminente;
          • Hipersensibilidade à droga.
    • Gestantes com mais de 34 semanas:
      • Interrupção imediata da gestação mediante a indução do trabalho de parto;
      • A escolha do método de indução dependerá do estado de amadurecimento cervical. Se houver condições cervicais favoráveis, utilizar ocitocina. No caso de colo desfavorável utilizar método de amadurecimento cervical. A cesariana está recomendada apenas nas indicações obstétricas.
    • Critérios para interrupção da gestação:
      • Gestação até 20 semanas, respeitadas as limitações legais, e além de 34 semanas; 
      • Trabalho de parto espontâneo;
      • Sinais de comprometimento fetal;
      • Sinais de infecção:
        • Hipertermia ≥ 37,80ºC e pelo menos dois dos seguintes sinais:
          • Útero doloroso;
          • Odor vaginal desagradável;
          • Taquicardia materna >100bpm;
          • Taquicardia fetal (>160bpm);
          • Leucocitose >15.000 células/ml.