ROTURA PREMATURA DE MEMBRANAS - RESUMO
- Anatomia das membranas fetais:
- O feto desenvolve-se dentro do saco amniótico que é envolvido como um balão pelas membranas fetais;
- As membranas consitem de:
- Fina camada do âmnio revestindo a cavidade amniótica composto por:
- Epitélio cuboidal simples;
- Camadas espongosa e compacta de tecido conjuntivo.
- Córion espesso consistindo de:
- Camada reticular;
- Camada trofoblástica.
- O âmnio funde com o córion apenas no final do primeiro trimestre, antes é separado pela cavidade exocelômica.
- Definição:
- Rotura de membranas que ocorre espontaneamente antes do início do trabalho de parto, independente da idade gestacional.
- Epidemiologia:
- Rotura prematura de membranas (RPM) ocorre em 8 a 10% de todas as gestações;
- Rotura prematura de membranas pretermo (RPMp) ocorre em 1% das gestações e tem uma incidência duas vezes maior em afrodescendentes;
- Entre 10 a 28% dos partos prematuros são uma consequência de RPMp.
- Consequências:
- RPM a termo oferece baixo risco para complicações neonatais severas;
- RPMp entre 32 e 36 semanas é associado com bom prognóstico, especialmente se o feto tiver maturidade pulmonar;
- RPMp entre 23 e 31 semanas oferece alto risco para complicações neonatais severas.
- Fisiopatologia:
- Com a progressão da gestação, mudanças no conteúdo e tipo de colágeno, juntamente com apoptose, resulta em enfraquecimento das membranas fetais:
- O enfraquecimento das membranas é mais evidente próximo ao óstio interno é estimulado pelas metaloproteinases de matriz e pela redução de seus inibidores.
- As contrações sujeitam as membranas a forças físicas adicionais;
- Se não ocorrer RPM, durante o trabalho de parto, a dilatação cervical diminui o trabalho necessário para causar rotura das membranas no óstio interno.
- Fatores de risco:
- Infecção do trato genital:
- Em 25 - 35% dos casos, existe positividade na cultura de líquido amniótico.
- Parto prematuro prévio, especialmente se este for causado por RPM:
- O risco é maior quanto menor for a idade gestacional do parto prematuro.
- Existem evidências atuais que suportam o uso de progesterona para mulheres que tiveram parto prematuro prévio devido a RPM
- Mulheres com pequeno comprimento cervical;
- Curso clínico:
- RPM a termo:
- Em metade das grávidas em conduta expectante, o parto ocorre em menos de 5 horas após RPM, e em 95% o parto ocorre dentro de 28 horas;
- RPM pretermo:
- Em 93% o parto ocorre em menos de 1 semana após RPM;
- Em 50 a 60% daquelas com tratamento conservativo, o parto ocorre em menos de 1 semana após RPM;
- Complicações:
- Complicações maternas:
- Corioamnionite:
- É a complicação materna de RPMp mais comum;
- O risco aumenta com a duração da rotura de membranas e diminui a medida que aumenta a idade gestacional;
- Com RPM remota do termo, corioamnionite ocorre em 60% dos casos e é complicada por endometrite em 2-13% dos casos.
- Descolamento prematuro de placenta:
- Pode causar ou ser consequência de RPM;
- Afeta 4-12% dessas gestações.
- Complicações fetais:
- Infecções;
- Sofrimento fetal:
- Pode ser causado por descolamento prematuro de placenta ou por compressão do cordão umbilical que, por sua vez, é causada por oligohidramnia.
- Morte fetal:
- 1-2% dos casos com conduta conservativa.
- Complicações neonatais:
- A frequência e severidade de complicações neonatais são inversalmente proporcional à idade gestacional em que ocorreu a rotura de membrana e o parto.
- Sindrome do Desconforto Respiratório (SDR):
- É a morbidade aguda severa mais comum devida a RPMp em qualquer idade gestacional;
- Sepse Neonatal:
- RPMp aumenta em duas vezes o risco de sepse neonatal em comparação a partos pretermo com membranas intactas;
- Pode resultar dos mesmos organismos presentes no líquido amniótico ou outros organismos;
- Pode apresentar-se como pneumonia congênita aguda, sepse, ou meningite;
- Hipoplasia pulmonar:
- Ocorre em 74-82% dos casos de RPMp entre 15 e 16 semanas gestacionais. Raramente ocorre com RPMp após 26 semanas;
- Complicação severa de oligohidramnio no segundo trimestre;
- Resulta de uma falta de bronquíolo terminal e de desenvolvimento alveolar durante a fase canalicular do desenvolvimento pulmonar;
- Desenvolve semanas após a rotura de membranas.
- Manifestações clínicas:
- Circunferência torácica pequena;
- Desconforto respiratório severo;
- Hipertensão pulmonar persistente no neonato;
- Achados radiográficos:
- Pulmões pequenos bem aerados;
- Tórax em forma de sino;
- Elevação do diafragma.
- Diagnóstico:
- O diagnóstico é feito pela presença dos seguintes critérios:
- Visualização de líquido amniótico evidente atravessando o canal cervical, ou;
- Paredes vaginais laterais ou fórnix posterior com pH maior que 6,0 a 6,5, e;
- Cristais microscópicos arborizados, devido à interação entre as proteínas do líquido amniótico e sais provenientes de secreções vaginais obtidas por swab a partir do fórnix posterior.
- Conduta:
- Considerações gerais:
- Deve-se avaliar a apresentação fetal, contrações, sinais de infecção intrauterina e evidências de sofrimento fetal;
- Evitar a realização de toque vaginal, exceto nas gestações a termo, em gestantes com parto iminente ou quando se planeja a indução imediata:
- Toque vaginal diminui a latência entre a rotura de membrana e o parto.
- Exame especular oferece informações acerca da dilatação e apagamento cervical, além de poder evidenciar a presença de cervicite;
- Se houver sangramento vaginal, avaliar possibilidade de placenta prévia e/ou descolamento de placenta;
- Na vigência de vaginose bacteriana, o tratamento está reservado para pacientes sintomáticas.
- Gestação entre 22 e 24 semanas:
- Pode-se oferecer à gestante a opção de interrupção da gestação devido aos riscos maternos associados como corioamnionite, sepse e óbito;
- Caso a mulher opte por uma conduta expectante, tal fato deverá ser registrado no prontuário;
- Deve-se fazer a internação no momento do diagnóstico, com hiper-hidratação por 48–72 horas e reavaliação do ILA. A partir de então, reavaliar periodicamente;
- O acompanhamento poderá ser realizado em nível ambulatorial, se não houver evidências de infecção ou sangramento vaginal, conforme a seguir:
- Avaliação de sinais de infecção e de começo do trabalho de parto:
- Febre.
- Hemograma duas vezes por semana.
- Presença de contrações uterinas.
- Avaliação do estado fetal:
- Biometria fetal a cada 15 dias.
- Percepção de movimentos fetais pela mãe.
- Ausculta de batimentos cardiofetais duas vezes por semana.
- Repouso estrito no leito;
- Evitar coito vaginal;
- Antibioticoterapia (ver adiante);
- Sem tocólise;
- Sem corticoterapia.
- Gestação entre 24 e 33 semanas:
- A mulher deve ser internada;
- Cuidados gerais:
- Repouso no leito com permissão para uso do banheiro;
- Curva térmica de 4 em 4 horas (exceto durante o sono noturno da gestante);
- Observar presença de contrações uterinas;
- Realizar exame especular quando necessário para avaliar as condições cervicais e eliminação de líquido amniótico;
- Hemograma duas vezes por semana ou se surgirem sinais de corioamnionite. Hemossedimentação e Proteína C reativa quando possível;
- Avaliação do estado fetal:
- Ausculta de batimentos cardiofetais duas a três vezes ao dia;
- Contagem de movimentos fetais pela mãe duas vezes ao dia (após almoço e jantar);
- Cardiotocogra fia basal diária ou no mínimo duas vezes por semana;
- Perfi l biofísico fetal diário para gestantes com ILA <5cm e duas vezes por semana para gestantes com ILA >5cm;
- Avaliação de volume de líquido amniótico por ecogra a de 2 em 2 dias.
- Hidratação oral (3 a 4l/dia);
- Antibióticos:
- Além de reduzir o risco infeccioso, melhoram os resultados perinatais;
- Um esquema possível seria o uso de AMPICILINA 2g IV a cada 6 horas por 48 horas seguida por 5 dias de AMOXICILINA 500 mg a cada 8h ou 875mg oral a cada 12 horas. Adicionalmente usa-se AZITROMICINA 1g em dose única oral.
- Corticoides
- Betametasona 12mg IM a cada 24h por dois dias (duas doses). OU
- Dexametasona 6mg IM de 12 em 12h por 2 dias (4 doses).
- Indicações: IG ≥ 24 e ≤ 34 semanas.
- Contraindicações:
- Evidências de infecção e/ou parto iminente;
- Hipersensibilidade à droga.
- Gestantes com mais de 34 semanas:
- Interrupção imediata da gestação mediante a indução do trabalho de parto;
- A escolha do método de indução dependerá do estado de amadurecimento cervical. Se houver condições cervicais favoráveis, utilizar ocitocina. No caso de colo desfavorável utilizar método de amadurecimento cervical. A cesariana está recomendada apenas nas indicações obstétricas.
- Critérios para interrupção da gestação:
- Gestação até 20 semanas, respeitadas as limitações legais, e além de 34 semanas;
- Trabalho de parto espontâneo;
- Sinais de comprometimento fetal;
- Sinais de infecção:
- Hipertermia ≥ 37,80ºC e pelo menos dois dos seguintes sinais:
- Útero doloroso;
- Odor vaginal desagradável;
- Taquicardia materna >100bpm;
- Taquicardia fetal (>160bpm);
- Leucocitose >15.000 células/ml.
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