domingo, 2 de junho de 2013

Síndrome de aspiração de mecônio - Resumo

SÍNDROME DE ASPIRAÇÃO DE MECÔNIO - RESUMO

  • Síndrome de aspiração de mecônio:
    • Fisiologia do mecônio:
      • É um líquido viscoso composto por secreções gastrointestinais, debris celulares, bile, suco pancreático, muco, sangue, lanugo deglutido e vérnix;
      • Durante a gestação, o mecônio aparece no íleo fetal entre a 10ª e 16º semana;
      • No nascimento, 60 a 200g pode ser eliminado pelo recém-nascido, sendo que a eliminação intra-útero é incomum, principalmente antes da 37ª semana gestacional, devido à pequena capacidade peristáltica, a um bom tônus do esfíncter anal e à presença de um "plug" de mecônio particularmente viscoso no reto;
      • Em gestações de 42 semanas ou mais, a passagem de mecônio ocorrre em 35% dos casos.
    • Definição:
      • Síndrome clínica caracterizada por uma insuficiência respiratória num neonato que apresenta líquido amniótico meconial ao nascer e que tem achados radiológicos compatíveis com o quadro clínico, sem que haja outra explicação para estes sintomas
    • Etiologia:
      • Hipoxemia fetal devido a insuficiência placentária ou limitação das reservas fetais:
        • Isso leva à passagem de mecônio para o líquido amniótico antes do parto;
        • O esforço respiratório ofegante causado por desconforto respiratório contínuo leva à aspiração de mecônio no útero.
    • Epidemiologia:
      • Passagem de mecônio para o líquido amniótico ocorre em 10-15% dos RN termo, 35% dos RN pós-termo e é rara em RN pretermo.
      • Apenas 5% dos RN com mecônio no líquido amniótico aspiram o material para os pulmões e desenvolvem a síndrome clínica;
      • A incidência geral é de 0,43 por nascido vivo.
    • Patogênese:
      • Aspiração de mecônio espesso leva à obstrução completa ou parcial;
        • Obstrução completa resulta em atelectasia;
        • Obstrução parcial resulta em hiperinflação devido ao sequestramento de ar nas porções pulmonares distais à obstrução
        • Isso resulta em um padrão radiográfico composto, com áreas de atelectasia e áreas com hiperinflação.
      • Mecônio mais diluido alcança os espaços aéreos distais, inativando o surfactante e levando à uma imagem radiográfica similar à da Síndrome do Desconforto Respiratório (SDR) com nebulosidade difusa e volume pulmonar diminuido;
      • Inflamação em resposta aos conteúdos meconiais levam à edema alveolar e bronquiolar, diminuindo, ainda mais, o surfactante e piorando o quadro.
    • Manifestações clínicas:
      • Pele frouxa e descamada;
      • Cordão umbilical com coloração amarelo-esverdeada;
      • Taquipnéia, batimento de asas nasais, retrações, roncos e estertores grossos;
      • Cianose;
      • O tórax pode ter um formato de barril, devido ao aprisionamento de ar.
    • Diagnóstico:
      • O diagnóstico é feito baseado nos seguintes critérios:
        • Presença de mecônio no líquido amniótico;
        • Presença de desconforto respiratório;
        • Alterações radiográficas:
          • Mudam com o tempo;
          • Na fase aguda com aspiração de mecônio espesso, existe um padrão radiográfico composto, com áreas de atelectasia e áreas com hiperinflação.
          • Com aspiração de mecônio diluido e inativação do surfactante, existe opacificação homogênea e volume pulmonar normal ou diminuído.
    • Diagnóstico diferencial:
      • Como existe presença de mecônio no líquido amniótico em 10% dos partos, recém-nascidos com outras causas de desconforto respiratório pode ter mecônio no líquido amniótico;
      • O principal diagnóstico diferencial é Taquipnéia Transitória do Recém-Nascido (TTRN). A apresentação radiográfica pode ser muito similar. A diferenciação se faz pelo rápido clareamento do infiltrado na TTPN, enquanto na Síndrome de aspiração de mecônio o infiltrado pulmonar persiste por muitos dias.
    • Tratamento:
      • CPAP (Pressão Positiva Contínua em Vias Aéreas)- Indicações:
        • RN com peso inferior a 1.500g, na presença de qualquer sinal de aumento do trabalho respiratório. Nesse caso, instalar a CPAP precocemente, se possível desde o nascimento;
        • RN com peso superior a 1.500g mantendo SatO2 abaixo de 89% em oxigênio igual ou superior a 40%;
        • Pós-extubação traqueal para todos os RN com peso inferior a 1.500g;
        • Apneia neonatal.
      • Ventilação mecânica, se CPAP não for suficiente;
      • Surfactantes:
        • Podem ser úteis pois o mecônio inativa o surfactante.
      • Corticóides:
        • Diminuem a inflamação, porém sua segurança não foi estudada.
      • Antibióticos:
        • São úteis pois o material meconial aspirado pode ser contaminado, além de que o mecônio propicia a infecção bacteriana.
    • Prognóstico:
      • A síndrome de aspiração de mecônio raramente é fatal devido aos cuidados intensivistas modernos, porém em lugares sem recursos, é uma importante causa de morbimortalidade.
    • Prevenção:
      • Evitar nascimentos pós-termos é uma medida efetiva;
      • Sucção traqueal de rotina não é recomendada para recém-nascidos hígidos, porém é uma medida importante em recém-nascidos deprimidos;
      • Âmnio-infusão não tem se mostrada efetiva na redução da incidência ou da severidade da síndrome de aspiração de mecônio.

Rotura prematura de membranas - Resumo

ROTURA PREMATURA DE MEMBRANAS - RESUMO

  • Anatomia das membranas fetais:
    • O feto desenvolve-se dentro do saco amniótico que é envolvido como um balão pelas membranas fetais;
    • As membranas consitem de:
      • Fina camada do âmnio revestindo a cavidade amniótica composto por:
        • Epitélio cuboidal simples;
        • Camadas espongosa e compacta de tecido conjuntivo.
      • Córion espesso consistindo de:
        • Camada reticular;
        • Camada trofoblástica.
    • O âmnio funde com o córion apenas no final do primeiro trimestre, antes é separado pela cavidade exocelômica.
  • Definição:
    • Rotura de membranas que ocorre espontaneamente antes do início do trabalho de parto, independente da idade gestacional.
  • Epidemiologia:
    • Rotura prematura de membranas (RPM) ocorre em 8 a 10% de todas as gestações;
    • Rotura prematura de membranas pretermo (RPMp) ocorre em 1% das gestações e tem uma incidência duas vezes maior em afrodescendentes;
    • Entre 10 a 28% dos partos prematuros são uma consequência de RPMp.
  • Consequências:
    • RPM a termo oferece baixo risco para complicações neonatais severas;
    • RPMp entre 32 e 36 semanas é associado com bom prognóstico, especialmente se o feto tiver maturidade pulmonar;
    • RPMp entre 23 e 31 semanas oferece alto risco para complicações neonatais severas.
  • Fisiopatologia:
    • Com a progressão da gestação, mudanças no conteúdo e tipo de colágeno, juntamente com apoptose, resulta em enfraquecimento das membranas fetais:
      • O enfraquecimento das membranas é mais evidente próximo ao óstio interno é estimulado pelas metaloproteinases de matriz e pela redução de seus inibidores.
    • As contrações sujeitam as membranas a forças físicas adicionais;
    • Se não ocorrer RPM, durante o trabalho de parto, a dilatação cervical diminui o trabalho necessário para causar rotura das membranas no óstio interno.
  • Fatores de risco:
    • Infecção do trato genital:
      • Em 25 - 35% dos casos, existe positividade na cultura de líquido amniótico.
    • Parto prematuro prévio, especialmente se este for causado por RPM:
      • O risco é maior quanto menor for a idade gestacional do parto prematuro.
      • Existem evidências atuais que suportam o uso de progesterona para mulheres que tiveram parto prematuro prévio devido a RPM
    • Mulheres com pequeno comprimento cervical;
  • Curso clínico:
    • RPM a termo:
      • Em metade das grávidas em conduta expectante, o parto ocorre em menos de 5 horas após  RPM, e em 95% o parto ocorre dentro de 28 horas;
    • RPM pretermo:
      • Em 93% o parto ocorre em menos de 1 semana após RPM;
      • Em 50 a 60% daquelas com tratamento conservativo, o parto ocorre em menos de 1 semana após RPM;
  • Complicações:
    • Complicações maternas:
      • Corioamnionite:
        • É a complicação materna de RPMp mais comum;
        • O risco aumenta com a duração da rotura de membranas e diminui a medida que aumenta a idade gestacional;
        • Com RPM remota do termo, corioamnionite ocorre em 60% dos casos e é complicada por endometrite em 2-13% dos casos.
      • Descolamento prematuro de placenta:
        • Pode causar ou ser consequência de RPM;
        • Afeta 4-12% dessas gestações.
    • Complicações fetais:
      • Infecções;
      • Sofrimento fetal:
        • Pode ser causado por descolamento prematuro de placenta ou por compressão do cordão umbilical que, por sua vez, é causada por oligohidramnia.
      • Morte fetal: 
        • 1-2% dos casos com conduta conservativa.
    • Complicações neonatais:
      • A frequência e severidade de complicações neonatais são inversalmente proporcional à idade gestacional em que ocorreu a rotura de membrana e o parto.
      • Sindrome do Desconforto Respiratório (SDR):
        • É a morbidade aguda severa mais comum devida a RPMp em qualquer idade gestacional;
      • Sepse Neonatal:
        • RPMp aumenta em duas vezes o risco de sepse neonatal em comparação a partos pretermo com membranas intactas;
        • Pode resultar dos mesmos organismos presentes no líquido amniótico ou outros organismos;
        • Pode apresentar-se como pneumonia congênita aguda, sepse, ou meningite;
      • Hipoplasia pulmonar:
        • Ocorre em 74-82% dos casos de RPMp entre 15 e 16 semanas gestacionais. Raramente ocorre com RPMp após 26 semanas;
        • Complicação severa de oligohidramnio no segundo trimestre;
        • Resulta de uma falta de bronquíolo terminal e de desenvolvimento alveolar durante a fase canalicular do desenvolvimento pulmonar;
        • Desenvolve semanas após a rotura de membranas.
        • Manifestações clínicas:
          • Circunferência torácica pequena;
          • Desconforto respiratório severo;
          • Hipertensão pulmonar persistente no neonato;
        • Achados radiográficos:
          • Pulmões pequenos bem aerados;
          • Tórax em forma de sino;
          • Elevação do diafragma.
  • Diagnóstico:
    • O diagnóstico é feito pela presença dos seguintes critérios:
      • Visualização de líquido amniótico evidente atravessando o canal cervical, ou;
      • Paredes vaginais laterais ou fórnix posterior com pH maior que 6,0 a 6,5, e;
      • Cristais microscópicos arborizados, devido à interação entre as proteínas do líquido amniótico e sais provenientes de secreções vaginais obtidas por swab a partir do fórnix posterior.
  • Conduta:
    • Considerações gerais:
      • Deve-se avaliar a apresentação fetal, contrações, sinais de infecção intrauterina e evidências de sofrimento fetal;
      • Evitar a realização de toque vaginal, exceto nas gestações a termo, em gestantes com parto iminente ou quando se planeja a indução imediata:
        • Toque vaginal diminui a latência entre a rotura de membrana e o parto. 
      • Exame especular oferece informações acerca da dilatação e apagamento cervical, além de poder evidenciar a presença de cervicite;
      • Se houver sangramento vaginal, avaliar possibilidade de placenta prévia e/ou descolamento de placenta;
      • Na vigência de vaginose bacteriana, o tratamento está reservado para pacientes sintomáticas.
    • Gestação entre 22 e 24 semanas:
      • Pode-se oferecer à gestante a opção de interrupção da gestação devido aos riscos maternos associados como corioamnionite, sepse e óbito;
      • Caso a mulher opte por uma conduta expectante, tal fato deverá ser registrado no prontuário;
      • Deve-se fazer a internação no momento do diagnóstico, com hiper-hidratação por 48–72 horas e reavaliação do ILA. A partir de então, reavaliar periodicamente;
      • O acompanhamento poderá ser realizado em nível ambulatorial, se não houver evidências de infecção ou sangramento vaginal, conforme a seguir:
        • Avaliação de sinais de infecção e de começo do trabalho de parto:
          • Febre.
          • Hemograma duas vezes por semana.
          • Presença de contrações uterinas.
        • Avaliação do estado fetal:
          • Biometria fetal a cada 15 dias.
          • Percepção de movimentos fetais pela mãe.
          • Ausculta de batimentos cardiofetais duas vezes por semana.
        • Repouso estrito no leito;
        • Evitar coito vaginal;
        • Antibioticoterapia (ver adiante);
        • Sem tocólise;
        • Sem corticoterapia.
    • Gestação entre 24 e 33 semanas:
      • A mulher deve ser internada;
      • Cuidados gerais:
        • Repouso no leito com permissão para uso do banheiro;
        • Curva térmica de 4 em 4 horas (exceto durante o sono noturno da gestante);
        • Observar presença de contrações uterinas;
      • Realizar exame especular quando necessário para avaliar as condições cervicais e eliminação de líquido amniótico;
      • Hemograma duas vezes por semana ou se surgirem sinais de corioamnionite. Hemossedimentação e Proteína C reativa quando possível;
      • Avaliação do estado fetal:
        • Ausculta de batimentos cardiofetais duas a três vezes ao dia;
        • Contagem de movimentos fetais pela mãe duas vezes ao dia (após almoço e jantar);
        • Cardiotocogra fia basal diária ou no mínimo duas vezes por semana;
        • Perfi l biofísico fetal diário para gestantes com ILA <5cm e duas vezes por semana para gestantes com ILA >5cm;
        • Avaliação de volume de líquido amniótico por ecogra a de 2 em 2 dias.
      • Hidratação oral (3 a 4l/dia);
      • Antibióticos:
        • Além de reduzir o risco infeccioso, melhoram os resultados perinatais;
        • Um esquema possível seria o uso de AMPICILINA 2g IV a cada 6 horas por 48 horas seguida por 5 dias de AMOXICILINA 500 mg a cada 8h ou 875mg oral a cada 12 horas. Adicionalmente usa-se AZITROMICINA 1g em dose única oral.
      • Corticoides
        •  Betametasona 12mg IM a cada 24h por dois dias (duas doses). OU
        • Dexametasona 6mg IM de 12 em 12h por 2 dias (4 doses).
        • Indicações: IG ≥ 24 e ≤ 34 semanas.
        • Contraindicações: 
          • Evidências de infecção e/ou parto iminente;
          • Hipersensibilidade à droga.
    • Gestantes com mais de 34 semanas:
      • Interrupção imediata da gestação mediante a indução do trabalho de parto;
      • A escolha do método de indução dependerá do estado de amadurecimento cervical. Se houver condições cervicais favoráveis, utilizar ocitocina. No caso de colo desfavorável utilizar método de amadurecimento cervical. A cesariana está recomendada apenas nas indicações obstétricas.
    • Critérios para interrupção da gestação:
      • Gestação até 20 semanas, respeitadas as limitações legais, e além de 34 semanas; 
      • Trabalho de parto espontâneo;
      • Sinais de comprometimento fetal;
      • Sinais de infecção:
        • Hipertermia ≥ 37,80ºC e pelo menos dois dos seguintes sinais:
          • Útero doloroso;
          • Odor vaginal desagradável;
          • Taquicardia materna >100bpm;
          • Taquicardia fetal (>160bpm);
          • Leucocitose >15.000 células/ml.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Distúrbios do líquido amniótico - Resumo

DISTÚRBIOS DO LÍQUIDO AMNIÓTICO - RESUMO

  • Funções do líquido amniótico:
    • Criação de um espaço físico para a configuração normal do esqueleto fetal;
    • Promoção do desenvolvimento pulmonar fetal normal;
    • Prevenção da compressão do cordão umbilical;
    • Proteção mecânica ao feto.
  • Volume normal do líquido amniótico:
    • 16 semanas gestacionais: 200 mL;
    • 28 semanas gestacionais: 1000 mL;
    • 36 semanas gestacionais: 900 mL;
    • 40 semanas gestacionais: 800 mL;
    • 42 semanas gestacionais: 200 mL.
  • Formação de líquido amniótico:
    • Urina fetal:
      • Os rins fetais começam a produzir urina antes do término do primeiro trimestre e a produção de urina aumenta até o termo;
      • À termo, a produção fetal de urina é de aproximadamente 1000 a 1200 mL/dia, sendo o volume total de líquido amniótico (LA) substituido mais de uma vez por dia.
    • Líquido pulmonar:
      • Por muito tempo, foi presumido que existia movimento de LA para os pulmões fetais, porém, dados recentes não oferecem suporte à essa idéia;
      • Na verdade, durante a gestação, os pulmões fetais produzem fluidos que saem pela traquéia e é engolido ou entra no compartimento do líquido amniótico pela boca; Essa idéia é suportada pela presença de surfactante no LA próximo ao termo;
      • Durante a respiração fetal existe movimentos de vai e volta de La, porém, tem um movimento efetivo dos pulmões para o líquido amniótico.
  • Remoção de líquido amniótico:
    • Deglutição fetal:
      • A deglutição fetal começa no início da gestação;
      • A taxa de deglutição é de aproximadamente 72 a 262 mL/Kg/dia;
      • A deglutição fetal não consegue remover todo o volume de líquido que entra no compartimento amniótico pela urina fetal e pelo líquido pulmonar e, portanto, outros mecanismos devem ocorrer.
    • Absorção Intramembranosa:
      • Essa via foi suspeitada devido a discrepância entre a taxa de produção de LA pela urina fetal e pelo líquido pulmonar e taxa de remoção pela deglutição;
      • O grande gradiente osmótico entre o LA e o sangue fetal força o movimento de LA do compartimento amniótico ao sangue fetal que circula na superfície fetal da placenta;
      • Pesquisadores notaram que 200 a 500 mL/dia deixa o compartimento amniótico por essa rota.
  • Oligoidramnios:
    • Incidência:
      • Varia entre 1 e 3%, dependendo da definição usada;
    • Consequências:
      • Risco de cesariana por sofrimento fetal;
      • Apgar diminuido no 5º minuto;
      • Risco de parto prematuro;
      • Sindrome de aspiração meconial;
      • Hipóxia fetal devido compressão do cordão pela redução do LA
    • Causas:
      • Fetais:
        • Agenesia renal;
        • Uropatia obstrutiva;
        • Rotura prematura de membranas;
        • Placentação anormal;
        • Gestação prolongada;
        • Restrição de Crescimento Intrauterino severa.
      • Maternas:
        • Desidratação/Hipovolemia;
        • Desordens Hipertensivas;
        • Insuficiência uteroplacentária;
        • Síndrome antifosfolípide;
        • Idiopática.
    • Aspectos suspeitos na anamnese:
      • História de rotura prematura de membranas;
      • Corrimento de fluido sanguinolento;
      • Calcinha molhada;
    • Sinais suspeitos no exame físico:
      • Medida do fundo de útero menor que a esperada para a idade gestacional;
      • Diminuição da circunferência abdominal;
      • Partes fetais facilmente palpáveis;
      • Desacelerações variáveis da frequência cardíaca fetal.
    • Diagnóstico ultrassonográfico:
      • Avaliação do volume do LA pela USG (avaliação subjetiva do ultrassonografista)
      • Avaliação do Índice de Líquido Amniótico (ILA):
        • Normal: ILA de 8-18 cm;
        • Oligoidrâmnio: ILA inferior a 5 cm;
        • Intermediário: ILA entre 5 e 8 cm;
        • Polihidrâmnio: ILA superior a 18 cm;
        • Utilizar a técnica dos quatro quadrantes, que consiste em dividir a área uterina em quatro quadrantes, que se cruzam na altura da cicatriz umbilical materna, e avaliar o maior bolsão de cada quadrante no seu diâmetro antero-posterior em cm. O somatório dos quatro valores obtidos constitui o ILA.
    • Tratamento:
      • Visa restaurar o volume do líquido amniótico, sendo necessário buscar o diagnóstico etiológico e, quando possível, corrigir a doença de base;
      • Hidratação materna:
        • Tem mostrado eficácia em aumentar o volume do LA;
        • Não deve ser usado se existir contraindicação para uma sobrecarga circulatória;
        • Recomenda-se um aporte total de 3 a 4 litros de líquidos por dia, preferencialmente por via oral.
      • Amnioinfusão:
        • Consiste na infusão de líquidos, principalmente solução salina, na cavidade amniótica;
        • Sua utilização ainda não é recomendada rotineiramente, estando restrita aos Centros de Referência, onde há possibilidade de monitorização por ultrassonografi a e esclarecimento das condições fetais.
      • Corticosteróides:
        • É recomendado, caso a idade gestacional esteja entre 24 e 34 semanas, para acelerar a maturidade pulmonar fetal. 
      • Monitorização:
        • Deve ser realizada avaliação periódica da vitalidade fetal pela dopplerfluuxometria e pelo perfi l biofísico fetal.
    • Conduta no parto:
      • Se o feto estiver hígido, aguardar a proximidade do termo para interrupção da gestação;
      • Utilizar monitoração eletrônica do feto no acompanhamento do trabalho de parto;
      • A oligohidramnia aumenta o risco de compressão funicular e se associa com frequência ao sofrimento fetal;
      • A interrupção da gestação por operação cesariana está condicionada à indicação materna ou ao comprometimento da vitalidade fetal.
  • Polihidrâmnio:
    • Definição:
      • Aumento excessivo do volume do líquido amniótico, superior a 2.000ml, em gestações acima de 30 semanas.
    • Incidência:
      • 1% em estudos de grandes populações.
    • Consequências:
      • Risco aumentado de parto prematuro;
      • Risco aumentado de morbidade e mortalidade perinatal;
    • Causas:
      • Maternas:
        • Diabetes Mellitus;
      • Fetais:
        • Gemelaridade;
        • Anomalias congênitas:
          • Anencefalia, hidrocefalia, microcefalia e defeitos abertos do tubo neural;
          • Atresia de esôfago ou duodeno, onfalocele, pâncreas anular e hérnia diafragmática;
          • Doença cardíaca congênita grave e arritmias cardíacas;
          • Malformações pulmonares e hipoplasia pulmonar;
          • Obstrução renal parcial ou completa e tumores renais.
        • Infecções congênitas (Sífilis, rubéola, toxoplasmose, citomegalovírus e parvoviroses)
        • Hidropsia fetal não imune.
      • Anexiais:
        • Placenta circunvalada;
        • Síndrome de transfusão gêmelo-gemelar;
        • Transfusão feto-materna.
      • Polihidrâmnio de início precoce ou severo geralmente está associado a anomalias congênitas ou síndrome de transfusão gêmelo-gemelar;
      • Polihidrâmnio de início no terceiro trimestre geralmente tem etiologia idiopática, porém outras causas devem ser 
    • Sinais suspeitos no exame físico:
      • Medida do fundo do útero maior do que a esperada para a idade gestacional;
      • Aumento exagerado da circunferência abdominal;
      • Di culdade de palpação das partes fetais. Sensação palpatória de muito líquido;
      • Di culdade na ausculta dos batimentos cardíacos do feto;
      • Possibilidade de cervicodilatação precoce.
    • Diagnóstico ultrassonográfico:
      • Índice de líquido amniótico (ILA) superior a 18cm.
    • Tratamento:
      • É necessário buscar o diagnóstico etiológico do polihidrâmnio para a conduta adequada do tratamento e prognóstico.
      • Gestantes sem sintomatologia intensa:
        • O tratamento expectante pode ser adotado se não se evidenciou malformação fetal. A atitude conservadora se fará até a maturidade fetal ou enquanto as condições maternas permitirem.
      • Gestantes com sintomatologia acentuada recomenda-se a internação com repouso no leito e tentativas de reduzir a distensão uterina. Nesses casos pode-se adotar:
        • Amniocentese descompressiva – indicada em casos de dispneia materna progressiva ou de dor abdominal. Recomenda-se a retirada lenta e gradual do líquido amniótico (200 a 500ml/hora) sob controle ultrassonográ fico, para evitar a descompressão brusca;
        • Corticosteroides para acelerar a maturidade pulmonar fetal, caso a idade gestacional se situe entre 24 e 34 semanas;
        • Avaliação periódica da vitalidade fetal pela dopplerfl uxometria e pelo perfi l biofísico fetal.
    • Conduta no parto:
      • No trabalho de parto é recomendável o prévio esvaziamento (amniocentese descompressiva), com o objetivo de normalizar a cinética uterina e melhorar a oxigenação fetal;
      • A amniotomia, quando indicada, deverá ser praticada com cuidado, pelo risco do prolapso de cordão e do descolamento prematuro da placenta;
      • A interrupção da gestação por operação cesariana está condicionada à indicação materna ou ao comprometimento da vitalidade fetal.

Neonatologia - Sistema Respiratório - Questões


NEONATOLOGIA - SISTEMA RESPIRATÓRIO - QUESTÕES

1. Um Recém-nascido, termo, AIG, nascido por parto vaginal com APGAR 7 (1 minuto) e 8 (5 minutos) desenvolveu desconforto respiratório leve e foi colocado em suplementação de oxigênio. Radiografia de tórax revela TTRN (Taquipnéia Transitória do Recém-Nascido). O fluido pulmonar é absorvido após o nascimento principalmente por:
a) Linfáticos
b) Circulação aórtica
c) Veia cava superior
d) Circulação pulmonar
e) Veia cava inferior


2. Um recém-nascido termo foi admitido à UTI neonatal com desconforto respiratório leve. Presença de mecônio no líquido amniótico. APGAR 7 e 8 em 1 e 5 minunos respectivamente. O RN recebeu suplementação de oxigênio a 40% . Gasometria arterial: pH 7,34, PCO2 39, PO2 80. Radiografia de Tórax revela hiperinflação e fluidos na fissura. O diagnóstico mais provável é:
a) Aspiração de mecônio
b) Pulmões normais
c) Derrame pleural
d) Quilotórax
e) TTRN (Taquipnéia Transitória do Recém-Nascido)


3. Um RN é diagnosticado com Taquipnéia Transitória do Recém-Nascido (TTRN). A radiografia de tórax inclui todos os seguintes achados, exceto:
a)  Fluidos na fissura
b)  Hiperinflação em ambos pulmões
c)  Diafragma plano
d)  Padrão granular grosseiro
e)  Marcas vasculares pulmonares proeminentes


Respostas

Neonatologia - Sistema Respiratório - Respostas


NEONATOLOGIA - SISTEMA RESPIRATÓRIO - RESPOSTAS

1. Letra "d". Circulação pulmonar.

2. Letra "e". Fluidos na fissura e hiperinflação sugerem TTRN.

3. Letra "d". Padrão granular grosseiro sugere aspiração de fluido amniótico intra-útero devido sofrimento   fetal. Ocasionalmente, fluido pleural é presente na TTRN.

Bronquiolite aguda - Questões


BRONQUIOLITE AGUDA

1. Organismo mais comum em bronquiolite aguda:
a) Influenza virus
b) Vírus Sincicial Respiratório (VSR)
c) Parainfluenza virus
d) Rhinovirus
e) Coxsackievirus


2. As seguintes condições podem causar uma doença pulmonar obstrutiva, exceto:
a) Aspiração de mecônio
b) Asma
c) Pneumotórax
d) Bronquiolite
e) Displasia broncopulmonar


Respostas

Bronquiolite aguda - Respostas


BRONQUIOLITE RESPOSTAS

1. Letra "b". VSR é o organismo mais comum em Bronquiolite aguda, responsável por aproximadamente 50% dos casos.

2. Letra "c". Na bronquiolite ocorre excesso de produção de muco, broncoespasmo, inflamação aguda e edema de mucosa. Todos esses aspectos causam obstrução dos bronquíolos. Logo, Bronquiolite é uma causa de doença pulmonar obstrutiva crônica. Pneumotórax causa doença pulmonar restritiva.

Bronquiolite aguda - Resumo


BRONQUIOLITE AGUDA


  • Definição:
    • Infecção respiratória aguda, de etiologia viral, que compromete as vias aéreas de pequeno calibre (bronquíolos), através de um processo inflamatório agudo, levando a um quadro respiratório do tipo obstrutivo com graus variáveis de intensidade. Ocorre mais frequentemente em crianças de até 1 ano de idade.
  • Etiologia:
    • Viral:
      • Vírus Sincicial Respiratório (VSR): Mais comum em < 1 ano de idade;
      • Rinovírus: Mais comum entre 1 e 2 anos de idade;
      • Outros vírus:
        • Parainfluenza;
        • Bocavirus;
        • Influenza;
        • Adenovirus;
        • Metapneumovirus humano.
      • Quase ¼ dos casos  envolvem mais de um patógeno.
  • Fisiopatologia:
    • Invasão do patógeno -> resposta imune:
      • Degranulação de eosinófilos:
      • Liberação de proteína catiônica eosinofílica que é citotóxica ao epitélio das vias aéreas. 
      • Liberação de IgE, quimiocinas, IL-8 e Proteína inflamatória Macrofágica.
    • A resposta imune é responsável pela lesão celular;
  • Patologia:
    • Hiperprodução de muco;
    • Broncoespasmo;
    • Inflamação aguda;
    • Necrose epitelial;
    • Edema de mucosa desde a mucosa nasal até os bronquíolos.
  • Manifestações clínicas:
    • A maioria das crianças começam com sintomas típicos de infecção do trato respiratório superior e após 1-3 dias evoluem para os sintomas do trato respiratório inferior;
    • Sintomas e sinais comuns:
      • Sibilos;
      • Estertores;
      • Roncos;
      • Tosse;
      • Coriza;
      • Taquipnéia;
      • Cianose;
      • Febre;
      • Restrações;
      • Batimento de asas nasais;
      • Gemidos;
      • Anorexia.
    • Sintomas se resolvem em poucos dias ou persistem por 1-2 semanas ou mais naqueles com doença pulmonar subexistente.
  • Diagnóstico:
    • É clínico com base nos seguintes critérios:
      • Idade entre 0 e 2 anos;
      • Início agudo de sintomas respiratórios como coriza, tosse, espirros precedidos ou não de febre;
      • Taquipnéia, com ou sem insuficiência respiratória;
      • Sinais clínicos de obstrução das vias aéreas inferiores, como sibilos e expiração prolongada.
    • Pontos importantes:
      • A oximetria deve ser realizada para os pacientes atendidos em hospitais;
      • A presença de estertores difusos à ausculta pulmonar é um achado freqüente, não sendo patognomônico de pneumonia;
      • Lactentes nascidos com baixo peso, ou prematuros, podem se apresentar com apnéia.
  • Exames complementares:
    • Radiografia de tórax:
      • Indicações:
        • Quando há dúvida diagnóstica;
        • Quando a evolução clínica não segue o padrão habitual;
        • Para pacientes admitidos na UTI.
    • Hemograma:
      • Não auxilia na diferenciação entre infecções virais e bacterianas.
    • Triagem para vírus respiratórios:
      • deve ser solicitada para pacientes que necessitem de internação,devido a medidas de precaução (contato, gotículas ou ambas, dependendo da etiologia).
  • Tratamento:
    • Local de tratamento:
      • Domiciliar na maioria dos casos;
      • Hospitalar: Critérios de admissão:
        • Sinais clínicos de insuficiência respiratória;
        • Hipoxemia (<92%);
        • Letargia;
        • Incapacidade de ingerir líquidos;
        • Considerar admissão em pacientes de alto risco:
          • Lactentes jovens;
          • Prematuros abaixo de 35 semanas;
          • Portadores de displasia broncopulmonar;
          • Cardiopatias congênitas cianogênicas ou com repercussão hemodinâmica;
          • Imunodeprimidos.
    • Terapia Farmacológica:
      • Broncodilatadores:
        • A maioria dos pacientes não se beneficia do tratamento com broncodilatadores;
        • Em pacientes com sinais de desconforto respiratório pode ser feito um teste terapêutico, particularmente naqueles com antecedentes pessoais ou familiares de atopia.
        • A epinefrina também pode ser utilizada,devido a sua ação alfa e beta agonista. Seu uso deve ser feito em ambiente hospitalar;
        • A manutenção dessas medicações só se justifica se houver melhora clínica significativa após 30 minutos da administração da primeira dose. Sugere-se a avaliação de parâmetros objetivos, como freqüência respiratória e saturação de oxigênio;
        • Não há benefício no uso de brometo de ipatrópio em pacientes com bronquiolite.
      • Corticóides:
        • O uso de corticoesteróides sistêmicos não é indicado no tratamento rotineiro dos pacientes com bronquiolite.
      • Antimicrobianos:
        • A ribavirina não deve ser utilizada no tratamento rotineiro dos pacientes com bronquiolite;
        • A ribavirina pode ser utilizada em pacientes com quadros muito graves ou em portadores de imunodeficiências graves, com bronquiolite causada por vírus sincicial respiratório, mediante confirmação etiológica.
        • O oseltamivir é liberado para uso em crianças acima de 1 ano de idade, e pode ser utilizado para o tratamento das infecções causadas pelo vírus Influenza em duas situações:
          • Pacientes de alto risco para infecção grave;
          • Pacientes saudáveis com quadro clínico grave.
          • O benefício do tratamento é maior quanto mais precocemente utilizado. Se iniciado até 12 horas do início dos sintomas, diminui o tempo de duração da doença em 3 dias. Se iniciado nos primeiros dois dias, diminui a duração em 1 dia.
        • Antibióticos não devem ser utilizados no tratamento de rotina da bronquiolite, exceto em infecções bacterianas documentadas. A presença de estertores faz parte do quadro clínico, e sua presença não caracteriza pneumonia bacteriana;
        • A otite média aguda é a complicação bacteriana mais freqüente nos pacientes com bronquiolite, encontrada em cerca de 50% dos pacientes. O tratamento das otites agudas deve seguir a recomendação habitual, independente da presença da bronquiolite.
      • Antihistamínicos, descongestionantes, antitussígenos não devem ser utilizados em pacientes com bronquiolite.
    • Terapia não-farmacológia:
      • Oxigênio: Pacientes com sinais de insuficiência respiratória devem receber oxigênio a fim de manter a saturação de oxigênio acima de 92%, e o mesmo deve ser retirado gradualmente, até que a saturação esteja consistentemente acima de 94% em ar ambiente.
    • Critérios de alta hospitalar:
      • Sem necessidade de oxigênio – Saturação estável acima de 94% em ar ambiente por mais que 12 horas;
      • Ingesta via oral acima de 75% do basal.
  • Prevenção:
    • Medidas gerais:
      • Incentivo ao aleitamento materno;
      • Evitar tabagismo passivo;
      • Lavagem das mãos;
    • Condutas específicas:
      • Vacinação contra o vírus influenza;
      • Uso profilático de osetalmivir nas seguintes situações:
        • Crianças de alto risco não vacinadas, ou vacinadas que não tiveram tempo de desenvolver a resposta imune;
        • Contactantes não vacinados de crianças de alto risco;
        • Portadores de imunodeficiência;
        • Controle de surtos em instituições fechadas;
      • Imunoglobulina hiperimune contra o vírus sincicial respiratório:
        • Menores de um ano nascidos prematuros abaixo de 28 semanas;
        • Menores de dois anos de idade portadores de:
          • Cardiopatias congênitas cianóticas;
          • Cardiopatias com hipertensão pulmonar grave; 
          • Cardiopatias com repercussão hemodinâmica (em uso de medicação);
          • Doença pulmonar crônica da prematuridade em uso de terapia medicamentosa nos 6 meses que antecedem a estação de pico (outono e inverno).
        • A posologia é de 5 doses mensais (a cada 30 dias) de 15mg/kg via intramuscular.
Questões de revisão